Goiânia é declarada Sede Brasileira do Dadaísmo e recebe placa do Cabaret Voltaire, de Zurique

Capital goiana é a única cidade brasileira a integrar a agenda internacional do Dada 100th Anniversary.

De 24 de setembro a 01 de outubro de 2016 Goiânia será palco de dezenas de atividades que compõem o DADASpring, evento que celebra os 100 anos do Dadaísmo no mundo. A capital goiana é a única cidade brasileira a integrar a agenda internacional do DADA 100th Anniversary, organizado por iniciativa da Associação DADA100, que reúne o Cabaret Voltaire e outras instituições suíças. O projeto tem a realização do Grupo EmpreZa e da Balaio Produções Culturais, e conta com recursos do Fundo Estadual de Cultura e com a parceria do Cabaret Voltaire Zurique.

A programação prevê manifestos, exposições, serões performáticos, saraus, shows musicais, conferências, debates, mostras de cinema, oficinas, apresentações artísticas e festas. Toda programação é gratuita e ocupará diferentes espaços da capital: o Cabaret Voltaire Goiânia; Praça Universitária; Praça Cívica; Praça do Trabalhador; Feira do Cerrado; Bosque dos Buritis – Museu de Artes de Goiânia; Evóe Café com Livros; Espaços da Universidade Federal de Goiás (UFG), como a Galeria da Faculdade de Artes Visuais (FAV), a Escola de Músicas de Artes Cênicas (EMAC), o Centro Cultural da UFG e sua galeria, o Cine UFG, o auditório da Biblioteca da UFG e a Faculdade de Letras.

Entre personagens marcantes estarão em Goiânia, para o evento, Adrian Notz, diretor do Cabaret Voltaire Zurique, Zé Celso Martinez, do Teatro Oficina (SP), Bia Medeiros, coordenadora do Grupo de Pesquisa Corpos Informáticos (DF), Alex Hamburguer, artista visual e performático (RJ), Marta Soares (SP), premiada pesquisadora, dançarina e coreógrafa de obras performáticas, Wagner Barja (DF), artista plástico e poeta visual, com 30 anos de carreira, que sempre procurou desconstruir com humor e ironia o linear e o estabelecido.

 

DADA ON TOUR

Da Suíça chegará o projeto chamado DADA On Tour, que é trazido pelo próprio Adrian Notz, diretor do Cabaret Voltaire Zurique. Trata-se de uma tenda de lona e tecido, que circulará por espaços públicos e apresentará textos, vídeos e imagens representantes do Movimento Dadaísta original, e ainda performances de artistas convidados. Esta tenda já circulou por locais como Singapura, Hong Kong, Aarau e Rio de Janeiro. Adrian também participará de uma mesa-redonda e acompanhará toda a programação do DADA Spring.

 

Em 1916

A Primeira Grande Guerra estava em curso. A batalha ocupava um contexto de desenvolvimento tecnológico e armamentista. Nesse tempo surgia o avião. O cinema. O rádio. Paris era o centro do universo cultural e artístico. E a guerra transformou a forma de pensar e de agir de uma classe que costuma deixar marcas profundas na história: artistas e pensadores se exilaram e se transformaram em tradutores deste instante desvairado. Contra tudo que até ali havia sido motivo daquela guerra, surgem os dadaístas. Precursores do movimento mais incoerentemente salubre e sensato de uma época de apinhados conflitos morais e éticos. O refúgio para estes exilados desertores foi a inabalável Zurique, capital da Suíça. Críticos a toda crueza do ser humano, os dadaístas eram niilistas caóticos, loucos irreverentes, gênios indomáveis. Para anunciar o Cabaret Voltaire, uma chamada foi publicada nos jornais de Zurique, conclamando artistas à procura de um novo palco. Era fevereiro de 1916. Não havia um formato definido para nada. O DADA jamais se pretendeu como linguagem. Sua tratativa era como movimento. Inclusive um movimento de autodestruição. O ritual era sua essência. O resultado era ocasional. Quando as massas quiseram transforma-lo em objeto de consumo, dissipou-se. Acha-se que em 1922. Mas deixou descendentes: Surrealismo, Arte Conceitual/Arte concreta, Pop Art, Expressionismo Abstrato, todos são espécimes mais ou menos inquietas, que tiveram suas origens naquela revolta de nome simbolicamente infantil. O nome DADA não quis dizer nada. Parecia uma piada, uma irônia, uma libertação. Ainda assim, discursou sobre tudo, sem meias palavras (ou nenhuma palavra), e definiu novos rumos para o olhar ocidental.

 

Cabaret Voltaire Goiânia

Oficinas, festas, shows e saraus acontecerão no Cabaret Voltaire Goiânia. O espaço, sede do grupo EmpreZa, receberá de Adrian Notz a placa oficial do Cabaret Voltaire Zurique, sendo consagrado como sede oficial do Dadá no Brasil. Segundo os organizadores, ao ser apresentado ao nosso Cabaret, onde já se realizam sarais performáticos, e onde já se trabalha com a participação de artistas e públicos das mais diversas origens e linguagens, o suíço demonstrou o desejo de vincular as histórias desses dois lugares, deixando uma marca oficial do Dada no Brasil.

De acordo com Adrian Notz, a conexão do grupo Empreza com o movimento dadaísta não poderia ser melhor. “Pela constituição na forma de um coletivo de artistas, que atuam a partir da performance arte, happenings e ações de intervenção em espaços públicos, operando um imaginário provocativo e crítico às mais diversas questões da arte, cultura e sociedade, o Grupo EmpreZa traz consigo uma força ética, política e estética que os aproxima intimamente dos artistas e dos manifestos do movimento dadaísta”, comenta o diretor.

O Cabaret Voltaire Goiânia nasceu em 2002, durante o encontro promovido pela Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC) junto à Universidade Federal de Goiás. Para o evento várias propostas de atrações artísticas foram recusadas. Foi então que Babidu, artista visual, membro integrante do Grupo EmpreZa, produtor cultural e arte-educador decidiu abrir a sua casa como um espaço paralelo de convivência, atraindo para ele as atividades culturais que não poderiam participar da programação oficial da SBPC.

 

Conexão Goiânia x Zurique

Fundado em 2001, inicialmente como grupo de estudo e pesquisa em performance arte, o Grupo EmpreZa (GE) possui hoje um vasto repertório de ações performáticas, happenings e produções audiovisuais e fotográficas. Este grupo parte de seu corpo-coletivo para pensar a performance, a arte e os lugares simbólicos em amplas dimensões. No ano de 2014, em uma das atuações na capital fluminense, o diretor do Cabaret Voltaire de Zurique, Adrian Nots, em turnê com sua tenda DadaOnTour também pelo Rio de Janeiro, soube da atuação do coletivo goiano, e do espaço que haviam criado no Centro-Oeste do Brasil.

A Balaio Produções Culturais entra então em cena, como parte estruturante do projeto. Sua relação com o Grupo EmpreZa começa em 2011, quando houve a segunda edição do evento que levava o nome do espaço Cabaret Voltaire Goiânia. Luana Otto, fundadora da produtora, fala dessa relação: “Para nossa produtora, realizar um evento cultural de importância temática mundial, delinear o conceito dadaísta, envolver grupos e artistas de reconhecimento internacional, e oferecer ao público uma programação cultural cosmopolita e universal, significa a transformação de nossa particular cosmosfera, criando novas redes, gerando novas conexões, tensionando a linha da amenidade, ainda que essa linha fosse pouco usual. Tudo isso reverbera em escala de emancipação. Uma maioridade equalizada com o mundo e disponibilizada aos profissionais, ao nosso mundo das artes, ao cenário cultural de nosso estado. É assim que enxergamos o DADASpring, e é por isso que ele passou a estar contido em nosso Balaio.”

Para Thiago Lemos, integrante do Grupo EmpreZa, esse encontro é fundamental para promover reflexão a partir da reunião de diferentes grupos. “Encontros na arte são sempre grandes mecanismos de criação, descobertas e experiências diferenciadas. A proposta do encontro é mostrar uma reflexão e a prática dessa aproximação, envolvendo artistas e realizadores de diferentes segmentos”, complementa.

 

Pela cidade

 Além de ocupar o Cabaret Voltaire e espaços na Universidade Federal de Goiás, o DADASPring estará nas ruas de Goiânia, ocupando as praças com a Tenda Dada On Tour. A proposta é que esse movimento artístico alcance todo o público, de forma a comovê-lo. “A arte tem aquilo que os antigos latinos chamavam de movere, que é a capacidade de nos mover. Se a arte move é porque é uma força, e as forças transformam. Neste caso, o movimento transformador ocorre, antes, no espírito, como comoção. A arte tem o poder de co-mover, de fazer com que os espíritos se comovam (movam-se juntos)”, explica Lemos.